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Espiritualidade e arte em sintonia, entrevista com Pe. Luís Renato Carvalho de Oliveira

Em 2005, o padre Luís Renato Carvalho de Oliveira estudou Arte Sacra, em Roma (Itália). Mais recentemente, além de cursos em Teologia, pode dedicar-se também à pintura na Faculdade de Artes na Colômbia, onde morou por dois anos. Atualmente, ele integra a equipe da Casa de Retiros Mosteiro de Itaici – Vila Kostka, em Indaiatuba (SP), onde fez novas pinturas-murais. “Acredito que toda minha ação na vida está impregnada de arte-liturgia-espiritualidade”, contou o padre Luís Renato, em entrevista ao informativo Em Companhia.

 

Conte-nos um pouco da sua história de vida.

Somos quatro filhos, três homens e uma mulher – Henrique, Luís Renato, David e Regina. Papai e mamãe, José e Joana, foram pessoas muito simples, de origem humilde e do campo. Papai trabalhou muito na fazenda, com gado e plantações, mas, depois, em empresas na cidade grande. Mamãe sempre foi professora. Nos últimos tempos, eles voltaram para o interior e moraram, muitos anos, na fazenda. Nascemos todos em Orizona, cidade pequena no interior de Goiás, Diocese de Ipameri. Mas, quando eu estava com quatro anos, fomos para Goiânia, a capital. Essa mudança foi, principalmente, por causa dos estudos dos filhos. As férias, entretanto, sempre passávamos na fazenda, tempo muito bom de contato com os parentes e a saudável vida do campo.

Como conheceu a Companhia de Jesus? Por que decidiu ser jesuíta?

Minha família foi muito religiosa e fui educado nessa participação na Igreja, desde sempre orientado para esses valores. Portanto sinto que minha vocação nasce aí mesmo. Em Goiânia, eu participava de uma paróquia dos Padres Estigmatinos. Quando meu grupo de jovens começava a fazer contato com a Casa da Juventude (Jesuítas), eu precisei mudar para Viçosa (MG), por causa do início do curso de Engenharia Civil. Essa mudança mexeu muito comigo e comecei a pensar, mais seriamente, em meu futuro. Muito atuante na Pastoral da Juventude, fui convidado a fazer uma experiência dos Exercícios Espirituais (EE) com padre José Ramón Fernández de la Cigoña, na época, o OL (Oração e Libertação), e foi uma grande descoberta. O retiro ajudou-me muito e comecei, então, um acompanhamento vocacional. Desde o início, fiquei encantado com os EE e com o que estava conhecendo da Companhia de Jesus, vindo ao encontro de minhas buscas por mais amor e serviço e também de sentido para minha vida.

Antes da sua nova missão, como membro da Equipe do Mosteiro de Itaici – Vila Kostka, o senhor esteve trabalhando na Amazônia. Como foi esse tempo? Quais desafios e ensinamentos pode partilhar?

Neste mês, completo 17 anos como presbítero e já vou com 29 anos na Companhia de Jesus, tempo intenso de muitas missões. Uma das mais desafiadoras foi, realmente, os quatro anos que vivi em Manaus (AM), trabalhando com os EE, sendo superior de comunidade por três anos, numa itinerância fantástica por vários estados deste norte brasileiro. Durante esse período, orientei Exercícios Espirituais para religiosos(as), clero secular e lideranças nas paróquias. Um clima muito quente e exigente, porém uma riqueza cultural incrível, de um povo muito acolhedor e aberto, que desafia nossa ação pastoral às exigências da inculturação e respeito as diferentes culturas e expressões.

“[…] em nossa vida, na natureza e nas culturas, estamos constantemente rodeados de arte […]”

Recentemente, o senhor esteve estudando na Colômbia. Nos fale desse tempo de formação. Quais os aprendizados e percepções adquiridos?

Nossa proposta de formação é sempre contínua, somos eternos aprendizes e nunca paramos de nos formar. Realmente, é um aprendizado constante. A experiência internacional é sempre muito rica, cheia de desafios frente a uma nova língua e uma nova cultura. É impressionante a diversidade e riqueza cultural da Colômbia, em vários aspectos, para um país, relativamente, pequeno. Voltar aos estudos universitários depois de tanto tempo e já com 50 anos foi maravilhoso, um presente de Deus e da Companhia. A proposta inicial era de apenas um ano sabático de estudos na Faculdade de Teologia da Universidade Javeriana, mas acabei ficando dois. No primeiro ano, escolhi cursos por semestre na Teologia que mais me atraíam, como também alguns diplomados (cursos intensivos). Além disso, no CIRE (Centro Ignaciano de Reflexión y Ejercicios), fiz a belíssima Escola dos Exercícios Espirituais durante todo o ano. Já, neste ano, comecei a pintar muito, a Colômbia me inspirava demais. Assim, fomos discernindo e veio a possibilidade de ficar no país por mais um ano, mas, desta vez, na Faculdade de Artes, o que foi maravilhoso. Também escolhi cursos que mais me interessavam, ajudado por colegas jesuítas e pelo próprio diretor da faculdade.

O que é necessário para trabalhar a arte sacra e, mais precisamente, a arte e a espiritualidade?

Inicialmente, acredito que o dom, a iniciativa, a criatividade e a ousadia devem nos levar a experimentar e descobrir novos caminhos. Claro que a formação vem dar sua contribuição, mas nada como a força da experiência para impulsionar esse movimento. O ser humano tem uma abertura e sensibilidade fantásticas para a beleza, em suas mais variadas expressões. E isso é maravilhoso, pois, em nossa vida, na natureza e nas culturas, estamos constantemente rodeados de arte, de cores, de sons, de formas e movimentos, de texturas e luzes e a espiritualidade sopra, desde o mais profundo do humano, o desejo de cuidar e de criar mais vida, mais liberdade, mais sentido e felicidade para todos! O mundo será salvo pela beleza (Fiódor Dostoiévski, escritor russo)! Acredito que toda minha ação na vida está impregnada de arte-liturgia-espiritualidade, mais concretamente, neste ano, na Casa de Retiros Mosteiro de Itaici – Vila Kostka (Indaiatuba/SP), com as novas pinturas-murais e os EE pela Arte.

Estamos passando por uma mudança de época, a espiritualidade também?

Realmente, vivemos em um mundo em mudança e isso nos afeta, nos provoca, em vários aspectos, como na visão de mundo, na visão do ser humano e na visão de Deus. No mundo, sempre aconteceram mudanças, talvez, nem sempre para melhor! A vida é assim, dinâmica, sempre em movimento! Creio que a espiritualidade, de modo muito especial os Exercícios Espirituais, nos ajudam a discernir esses novos caminhos, sempre no compromisso com nossa humanidade, sempre aberta para Deus. Nesses dias, estou, pela quarta vez, orientando os EE de 30 dias e fico encantado com a força tão eficaz dessa ferramenta, uma riqueza que ainda não descobrimos em sua totalidade, pois é sempre assim, as coisas de Deus nos ultrapassam!

 

Essa entrevista foi publicada na 47ª Edição do informativo Em Companhia (Agosto 2018). Quer ler a edição completa? Então, clique aqui!

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